Raphael Ramos

Por que tantos homens estão sem desejo? Psicanálise e a potência masculina.

9 setembro, 2025

Nunca se falou tanto sobre a falta de desejo masculino. Homens jovens relatam dificuldade de manter relações sexuais, casados reclamam da ausência de libido, e muitos se sentem aprisionados em compulsões — da pornografia à apatia. Mas o que está acontecendo?

Reduzir o desejo apenas a hormônios ou ao funcionamento do corpo é simplificar demais. Para a psicanálise, o desejo é estrutural: ele nasce da falta, do encontro com o outro, daquilo que não está totalmente disponível. Quando um homem perde o desejo, não significa apenas que algo falhou no corpo, mas que sua relação com o prazer, com o feminino, com a própria masculinidade entrou em conflito.

Homens são cobrados a serem fortes, viris, bem sucedidos financeiramente, seguros de si mesmos e nunca falhando no sexo. Essa exigência cria um paradoxo: quanto mais a performance é exigida, mais a espontaneidade desaparece. O desejo não nasce da cobrança, mas da liberdade.

O resultado? Impotência psíquica: o corpo responde ao peso da obrigação.

Outro fator que aparece cada vez mais na clínica é a pornografia. Ela oferece excitação imediata, sem risco de rejeição, mas cobra um preço: a dificuldade de sustentar o encontro com o real. O homem que se acostuma ao consumo compulsivo acaba anestesiando o próprio desejo. Não é que ele não deseje nada — é que o desejo ficou preso na tela.

A psicanálise não entrega uma “receita para aumentar a libido”. Mas um espaço de fala, onde o homem pode compreender suas contradições, reconhecer seus desejos para além da cobrança externa e finalmente retomar a relação com sua própria potência.

Nesse processo, o sintoma — a falta de desejo — deixa de ser apenas um problema e passa a ser uma porta de entrada para uma vida mais autêntica.

A crise da potência masculina não é apenas individual, mas também social. No entanto, cada homem pode encontrar sua forma  de lidar com ela. A psicanálise convida à escuta desse mal-estar, não para devolver uma virilidade estereotipada, mas para permitir que cada sujeito descubra onde está, de fato, sua força.

Se você tem vivido essa dificuldade, saiba que não está sozinho.

 

Ansiedade não é frescura: a psicanálise e o sintoma mais comum da atualidade.

9 setembro, 2025

Quantas vezes você já ouviu — ou até disse para si mesmo — a frase: “isso é só nervosismo, passa”?
A verdade é que a ansiedade não é apenas um desconforto passageiro. E sim um dos sintomas mais comuns da atualidade, presente em homens e mulheres de todas as idades.

Na psicanálise, olhamos para este sintoma como mensagem.
A ansiedade revela um conflito interno, muitas vezes inconsciente, entre desejos, medos e exigências do mundo externo. Não é apenas um problema a ser eliminado, mas uma forma de o sujeito expressar aquilo que não consegue colocar em palavras.

Vivemos em uma sociedade marcada por três características principais:

Aceleração: somos cobrados a estar sempre disponíveis, produtivos e atualizados.

Performance: o valor do sujeito muitas vezes é medido pelo que ele entrega e não por quem ele é.

Compulsão: excesso de estímulos digitais, consumo e relações superficiais.

Nesse contexto, a ansiedade surge como resposta ao impossível de dar conta de tudo. É como se o corpo gritasse: “pare e me escute”.

Na clínica psicanalítica, o objetivo não é simplesmente “eliminar a ansiedade”, mas compreender sua função na vida de cada pessoa.A ansiedade não é frescura. Ela é um sinal legítimo de que algo dentro de nós pede escuta e elaboração.

Na psicanálise, aprendemos que o sintoma é um mensageiro — desconfortável, é verdade —, mas que aponta para a possibilidade de transformação.

Se você tem sentido que a ansiedade está tomando conta da sua vida, saiba que não precisa enfrentar isso sozinho.
A escuta psicanalítica pode ser o espaço onde sua fala encontra sentido.